quarta-feira, 1 de junho de 2011

Chove em mim


Gotas geladas, sinto-as uma a uma,
Rolam-me na face, descem por mim devagar, caprichosas,
Parecem duvidar que as sinto.
Uma densa nuvem cinzenta paira sobre mim, o seu poder inquieta-me...
Sinto o aperto das asas negras de um anjo branco, asfixio,
Perco o sentido da realidade que me transportou ali,
Prioridades invertem-se.
O ribeiro indolente que entretanto se formou leva nas suas águas muito do que há em mim,
Enxergo a apatia das suas águas lamacentas,
E as gotas agora com mais intensidade seguem uma a uma,
Insinuam-se, dão mostras de uma vontade intolerante.
Cansada enchergo a sobra do meu rosto no riacho,
Com mágoa assinto,
É que... Hoje, hoje chove em mim.

Vieira MCM

Rebentos de um Dilúvio

Águas sujas de um dilúvio de raivas escondidas,
Correm como loucas numa torrente devastadora,
Passam além dos limites definidos para o seu curso.
Submergem tudo o que de mais fraco se interpõe em seu caminho.
Seguem frias, indiferentes ao declinio da sua passagem,
Esqueceram elas que um dia a chuva pára, e o seu caudal tornar-se-á diminuto?
O sol brilhará, e, o que outrora tombou, surgirá,
Qual rebento sedento de luz, maior e mais forte se tornará.
Também mais exigente. Esse tipo de águas jamais de alimento lhe servirá.
Não se deixa submergir com a facilidade de outrora.
As gotas cristalinas são o amor com que se fortalecerá.

Vieira MCM

terça-feira, 3 de maio de 2011

Solidão...diferente

Sinto a solidão,
A deficiência de afectos confusos, sentidos conforme a neccessidade que têm de mim.
Que fazer das palavras que ninguém quer ouvir?
E a verdade que ninguém quer saber.
Resta-me escrever, talvez assim evite o veneno das palavras amargas que me consomem.
Veneno que já os assaltou, transformando-os em corpos ocos,
deambulando pela vida, sem sentido, sem sentir, sem viver.
Incapazes de olhar e ver que há gente.
Gente que vive.
Gente que sente.
Gente que quer ser diferente.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Ainda que doa

Alma nua, despida de tudo,vestida de nada,
Deambulando na noite, preza na alvorada,
Magoa-a a indiferença, por todo lado espelhada,
Indaga uma compreenção, que agora não vale nada,
Alma vazia, cheia de tudo e quase nada,
Inábil, não se expressa,
Galopa, mas não tem pressa,
Inflige-se sofrimento que dizem não lhe pertencer,
Falam-lhe de um caminho, que pensam não o saber,
Não se obedece... apenas por não querer,
Da necessária vontade, ainda que doa,
Depende o fazer.

Vieira MCM

quarta-feira, 23 de março de 2011

Caminhos que queria ver cruzar

Á medida que avanço no caminho apercebo-me de como o tempo passa depressa,
Percebo a urgência que me assalta em tudo o que quero ainda realizar.
A despeito da urgência, avanço devagar, nesta jornada que podia muito bem ser colectiva.
Doi-me ver tombar aqueles a quem quiz estender a mão,
Uns não a quizeram agarrar, outros nem sequer quizeram que a estendesse.
Vontades legitimas.
E eu? Porque não insisti? Não os contrariei, porquê?
Agora é mais doloroso, vejo-os afastados, os nossos caminhos já não se cruzarão.
E eu sem a força, ou a vontade necessária para os resgatar, conformo-me.
O que me assusta é o repetir da história.
Alguns dos que fazem parte da minha urgênte necessidade de sentir gente feliz,
Para meu pesar estão parados, sentados na berma do seu caminho, a ver a vida passar.
Desacreditaram cedo, sentem a tentação de retornar.
Vejo-os, mas não lhes chego.
Agora, como antes, sinto dificuldade em os agarrar.
Paro no meu caminho, como que encalho, não é assim que almejo avançar.
Agarra-me a urgênte necessidade de ver todos chegar.

Vieira MCM

segunda-feira, 7 de março de 2011

Entre o Mel e o Fel

Neste vazio de mim, vazia dos outros,
uma constante batalha tem lugar dentro de mim,
o caminho a percorrer é longo e sinuoso,
chego sem grande alento à bifurcação, onde não vejo para além,
a dúvida, a angustia, sei lá ... o coração ... não sei!
Sei o peito apertado de certezas,
sei o peito apertado de dúvidas,
sei o peito cheio de decisões,
sei o peito cheio de mudanças,
sei o peito apertado de inércia,
sei o peito apertado de impotência,
Cabeça louca de aparência normal,
olhar brando esconde o fogo que a consome,
sorriso leve mascara-me o grito, 
a mente profere as palavras que não digo,
mudas, inaudivéis mortas em mim.
Assim sou, feita de mel e de fel.
num duelo alucinante, sem opositor,
entre risos e choros sigo a passos lentos,
demorados pelo conhecimento da trincheira onde me escondo,
Afinal sou só eu dentro de mim,
Neste embalo de emoções caminho e abro caminho,
sem destino certo, sem certeza de chegar,
Pretensão tola, desejo legítimo? Não sei,
É-me absolutamente necessário este encontro com o espelho da vida,
e quando acontecer, quero ver nele refletida a pessoa que sempre quiz ser,
Eu,
Cheia de Mel com um toque de Fel.

Vieira MCM

terça-feira, 1 de março de 2011



Agradeço e retribuo o carinho.

"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível,
é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador."

Clarisse Lispector

Com o mesmo carinho ofereço de volta o selinho ao Blog "Sempre" e a mais cinco Blog's
http://semprearecomecar-sempre.blogspot.com/
http://palavrasnsilencio.blogspot.com/
http://moimh.blogspot.com/
http://sopoesia-ana.blogspot.com/
http://pharusdelmare.blogspot.com/
http://jb-emtonsdeazul.blogspot.com/

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Palco

Um dia hei-de ir embalada nas asas de um pássaro,
molhar os pés nas poças,
sentir o frio da água,
beber em todas as fontes,
matar a sede de ir além,
perder o medo de ficar aquém.
Saciar a vontade de partir mundo fora,
Acalentar no regaço a realidade de estar aqui,
Dançar ao vento como se não houvesse agora,
contorcer-me em malabarismos maravilhosos no trapézio da vida,
E quando o cansaço me atacar o pano baixa,
sem medo, deixo-me cair na rede que me ampara,
porque uma imensa plateia de companheiros de viagem dá vivas.
Serena ergo-me, agarro a vida, olho-a de frente.
Vou vivê-la, sem medo de errar,
nesse palco que é de todos, sem rede...
Fazemos todos parte do mesmo elenco.
Façamos com que a peça seja um sucesso,
e no final em apoteose, gratos por partilhar-mos este grande palco,
actores e público, somos um.
Cara e coroa da mesma moeda.

Vieira MCM

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ao alcance de um sonho... à distância de um passo!



Cuidadosa desatou os sapatos em silêncio, tirou-os devagar, como se fosse a última vez que o fazia.
Pé ante pé saboreou o frio húmido das folhas mortas caídas no chão durante o Inverno.
Era Primavera, as árvores já exibiam folhagem verde, cheias de vida.
O perfume das flores deteve-a por momentos, penetrou-lhe as narinas, cansadas do fumo da cidade.
Tomou uma grande golfada de ar e continuou.
Os raios de sol rompiam a densa folhagem em todas as direcções, avivavam-lhe o brilho dos cabelos brancos, que já se faziam notar. Os traços que alietoriamente lhe vincavam o rosto são histórias já vividas, dores sofridas, alegrias contidas, tristezas partilhadas.
Alheia a tudo continua.
Olhos fixos, não se lhes percebe um só sentimento.
Não, já não era como outrora, não exteriorizava. Aprendera a amarga lição, guardar para si!
Sabia de antemão que estavam habituados a vê-la como ouvinte, não como narradora... para quê desiludi-los? Nunca tivera essa pretensão.
Na verdade já pouco interessava.
Ela própria sentia-se desiludida, só ainda não sabia se consigo se com os outros. Esta imensa confusão consumia-a. Preferia não pensar nisso por enquanto.
Continuava a caminhar, as ervas altas desgrenhadas atrasavam-lhe os passos pouco decididos, como se a quisessem segurar ali, onde não podia nem queria ficar.
Aquele ponto minúsculo de luz atraía-a.
Exausta quase desistira, conseguiu soltar algumas daquelas amarras e continuou.
O ponto minúsculo permanecia distante, mas a sua rara beleza não lhe deixava dúvidas. Era por ali o caminho. Para construir a tão desejada paz interior, tinha de o alcançar.
Meio entorpecida, olhou para tudo o que ficou para trás, para o caminho já percorrido. Não viu mais que uma densa névoa onde as formas mal se destrinçavam, não mais pertencia ali.
Voltou-se para a frente, lá estava ele o ponto minúsculo como que a chama-la, sentiu a luz que dele emanava.
Agora, confiante continuou a caminhar.

Vieira MCM

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Pôr do Sol...nunca como agora!


Embalada nos braços do pôr do sol,
Fui lá onde a dor não existe,
Onde só o amor subsiste.

Vi as flores confiarem ao arco íris as suas cores,
Lá onde a tristeza não tem lugar,
Vi os homens a sorrir,
Lá onde a fome não vai mais matar.

Vieram bandos de pássaros anunciar:
As crianças não vão mais chorar.

Neste lugar especial,
Só a partilha e a fraternidade fazem sentido,
Coisas que aqui não temos tido.

O pôr do sol devolve-me aqui, ao nosso lugar contido.
Desejo que nos dispamos de preconceitos,
Que nos libertemos de dogmas e medos.

Nunca como agora foi tão urgênte dar prioridade aos valores morais.
Nunca como agora foi tão dificil cultiva-los.

Anseio o dia em que seremos capazes de nos respeitar-mos como iguais.
Olhemos o pôr do sol com humildade.
Precisamos aprender com a sabedoria do universo.
Somos ainda tão pequenos, aceitemos a realidade.

Vieira MCM