quarta-feira, 1 de junho de 2011

Chove em mim


Gotas geladas, sinto-as uma a uma,
Rolam-me na face, descem por mim devagar, caprichosas,
Parecem duvidar que as sinto.
Uma densa nuvem cinzenta paira sobre mim, o seu poder inquieta-me...
Sinto o aperto das asas negras de um anjo branco, asfixio,
Perco o sentido da realidade que me transportou ali,
Prioridades invertem-se.
O ribeiro indolente que entretanto se formou leva nas suas águas muito do que há em mim,
Enxergo a apatia das suas águas lamacentas,
E as gotas agora com mais intensidade seguem uma a uma,
Insinuam-se, dão mostras de uma vontade intolerante.
Cansada enchergo a sobra do meu rosto no riacho,
Com mágoa assinto,
É que... Hoje, hoje chove em mim.

Vieira MCM

Rebentos de um Dilúvio

Águas sujas de um dilúvio de raivas escondidas,
Correm como loucas numa torrente devastadora,
Passam além dos limites definidos para o seu curso.
Submergem tudo o que de mais fraco se interpõe em seu caminho.
Seguem frias, indiferentes ao declinio da sua passagem,
Esqueceram elas que um dia a chuva pára, e o seu caudal tornar-se-á diminuto?
O sol brilhará, e, o que outrora tombou, surgirá,
Qual rebento sedento de luz, maior e mais forte se tornará.
Também mais exigente. Esse tipo de águas jamais de alimento lhe servirá.
Não se deixa submergir com a facilidade de outrora.
As gotas cristalinas são o amor com que se fortalecerá.

Vieira MCM