segunda-feira, 17 de novembro de 2008

LUZ

Aparto a poeira que me turva o coração.
Estimulo a visão. Espero que alcance para lá da névoa.
Filo-a!
Foge-me por entre os dedos.
Sinto-a. Toca-me ao de leve.
Sei que não está ao fundo do tunel! E não a procuro lá.
Sinto-a tão perto que posso experimentar o seu calor.
Sinto-a! Sinto-a, mas não a vejo.
Eu sei, vê-la só depende de mim!
Indago em seu encalço.
Percebo a tracção exercida. Deixo-me ir.
Sinto-a mais minha.
Essa LUZ sublime, centelha da vida.
Fecho os olhos. Abro os braços expectando que entre.
A verdade é que a quero a brilhar dentro de mim!

Vieira MCM

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Mar adentro

Fixo-o.
Observo-lhe a beleza, parece desdenhar da minha imperfeição.
Ferida na minha pequenez, invejo-lhe a liberdade.
Sinto dificuldade em escrever sobre esta imagem,talvez porque através dela, por fim, entendo que a vida só pode ser uma breve passagem.
Experimento uma sincera vontade de mudança.
Abrandar o ímpeto, corrigir as acções.
Não é fácil desirmanar. Há muito que o sei!
O direito à diferença não é concedido de bom grado às minorias.
Aceito o ataque. Sozinha lamberei as feridas.
Não brindarão a minha entrega, continuarei a lutar.
Pela sua mão, volto ao lugar de onde afinal não saí.
Ele continua alí. O mar.
Grandioso diante de mim.

Vieira MCM

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Palavra Sentida

Da fluidez das palavras,
Rio-me sem saber o que dizer,
Se a cada palavra apenas se adequasse um sentido.
Não penso nisso, não, não quero saber.
Ténue é a fronteira do sofrimento com a felicidade, do amor com o ódio,
E resta a palavra dita, não dita, pensada, remoída, tantas vezes abafada pela dor.
Entre palavras sinto-me perdida.
A duvida galopa e insiste.
Descrever o que sinto? Não sei se a palavra existe.
Uma só palavra sentida, triste.
A lágrima não desliza, mas a dor persiste.

Vieira MCM

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Da Minha Janela

Em compasso dançam para lá e para cá,
Uma dança sensual.
Perdem a folhagem,
Numa beleza sem igual.
Despidas, elegantes,
Já não é como era dantes,
Cada coisa tem seu tempo.
Não, agora não é assim,
Tudo sobrevem antes do tempo.
Delicadas flores num festim de cores,
Uma dádiva para os sentidos,à muito adormecidos,
Agitados pela opulência dos odores.
Criaturas frágeis, ensaiam uma breve paragem,
Sempre alerta, sentem a aragem.
Agarro o momento, afasto-me da janela.
Tenho medo de perder esta paisagem!

Vieira MCM

sexta-feira, 7 de março de 2008

Floresta Desencantada

Por detrás da névoa matinal vislumbro a floresta de betão.
O chilrear das buzinas.
Percebo o formigar agitado dos bichos de lata.
Vejo com estranhesa o sublevar dos seres,
resignados com a própria revolta.
Atónitos, incapazes de inverter o rumo.
Programados, perderam a audácia.
Cegos pela rotina, não encontram o caminho.
Expectam a estação que se avizinha,
talvez traga os ventos que espargiram as sementes da mudança.
Em alguma Primavera há-de florir a tolerancia.

Vieira MCM

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Metamorfose

Algures entre a euforia e a displicência.
A metamorfose inevitavelmente dolorosa.
Acarretar o resultado, nem sempre almejado.
A hesitação entre a inércia e a acção.
Admitir a carência. Prorrogar a indagação.
Gravitar.
Adestrar a frustração.
Assentir a tempestade expectando a bonança.
Acalentar a ânsia.
Florescer, inverter.
Consentir.
Apenas viver.

Vieira MCM

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Vogando Contra Vontade

A chuva ainda cai.
Olho com suspeição o que ainda está para vir,
Sons recônditos, intricados,
Não, não os quero ouvir.
O cinzento do céu adensa a ausência,
A luz baça labuta na melancolia.
Abrando em desmesurada cadência.
Abdico do sonho em proveito de coisa nenhuma.
Grito! Não me ouvem.
Tudo o que julgava ser exacto aluiu.
Resta-me exaurir.
Partir! Não posso.
Tento renascer para a realidade teimosamente irrefutavel.
Avanço tremeluzente, sinto o corpo contra a força da corrente.
Retraio-me, sinto a lacuna.
Sentimentos em catadupa. Não os posso deter.
Despojo-me do que creio, não insisto.
Talvez me arrependa.
Mas acredito que a falha também se remenda.

Vieira MCM

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Águas Turvas

Águas turvas.
Pensamentos estranhos.
Há que impedir.
Desabrocham no escuro das entranhas.
Tomam o ventre como se fosse seu.
Crepitam, pululam.
A agonia do desprezo.
O mundo indeciso, berra e cala sem aviso.
Problemas humanitarios em países pobres, ouvimos dizer.
Então, que nome damos ao egoísmo, à indiferença, ao cruzar de braços, ao lavar de mãos?
E os homens e mulheres do poder? Que nada querem e por isso não podem.
Há, se pudessem ao menos por uma única vez sair do pedestral e caminhar num campo de refugiados, olhar nos olhos das crianças, e sentir.
Sentir que eles são o presente que maltratamos, para ficar à espera de um futuro melhor.
Vamos colocar a questão de forma inversa, e começar de novo.
Abrir o jornal e ler problemas humanitários nos paises ricos,a enumerar:
Egoismo que baste, egocentrismo quanto mais melhor, indiferença o suficiente, falta de valores a gosto, e esta é a receita com que ambicionamos resolver um problema que asseveramos ser dos outros, mas que de facto é de todos nós.

Vieira MCM