quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Palco

Um dia hei-de ir embalada nas asas de um pássaro,
molhar os pés nas poças,
sentir o frio da água,
beber em todas as fontes,
matar a sede de ir além,
perder o medo de ficar aquém.
Saciar a vontade de partir mundo fora,
Acalentar no regaço a realidade de estar aqui,
Dançar ao vento como se não houvesse agora,
contorcer-me em malabarismos maravilhosos no trapézio da vida,
E quando o cansaço me atacar o pano baixa,
sem medo, deixo-me cair na rede que me ampara,
porque uma imensa plateia de companheiros de viagem dá vivas.
Serena ergo-me, agarro a vida, olho-a de frente.
Vou vivê-la, sem medo de errar,
nesse palco que é de todos, sem rede...
Fazemos todos parte do mesmo elenco.
Façamos com que a peça seja um sucesso,
e no final em apoteose, gratos por partilhar-mos este grande palco,
actores e público, somos um.
Cara e coroa da mesma moeda.

Vieira MCM

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ao alcance de um sonho... à distância de um passo!



Cuidadosa desatou os sapatos em silêncio, tirou-os devagar, como se fosse a última vez que o fazia.
Pé ante pé saboreou o frio húmido das folhas mortas caídas no chão durante o Inverno.
Era Primavera, as árvores já exibiam folhagem verde, cheias de vida.
O perfume das flores deteve-a por momentos, penetrou-lhe as narinas, cansadas do fumo da cidade.
Tomou uma grande golfada de ar e continuou.
Os raios de sol rompiam a densa folhagem em todas as direcções, avivavam-lhe o brilho dos cabelos brancos, que já se faziam notar. Os traços que alietoriamente lhe vincavam o rosto são histórias já vividas, dores sofridas, alegrias contidas, tristezas partilhadas.
Alheia a tudo continua.
Olhos fixos, não se lhes percebe um só sentimento.
Não, já não era como outrora, não exteriorizava. Aprendera a amarga lição, guardar para si!
Sabia de antemão que estavam habituados a vê-la como ouvinte, não como narradora... para quê desiludi-los? Nunca tivera essa pretensão.
Na verdade já pouco interessava.
Ela própria sentia-se desiludida, só ainda não sabia se consigo se com os outros. Esta imensa confusão consumia-a. Preferia não pensar nisso por enquanto.
Continuava a caminhar, as ervas altas desgrenhadas atrasavam-lhe os passos pouco decididos, como se a quisessem segurar ali, onde não podia nem queria ficar.
Aquele ponto minúsculo de luz atraía-a.
Exausta quase desistira, conseguiu soltar algumas daquelas amarras e continuou.
O ponto minúsculo permanecia distante, mas a sua rara beleza não lhe deixava dúvidas. Era por ali o caminho. Para construir a tão desejada paz interior, tinha de o alcançar.
Meio entorpecida, olhou para tudo o que ficou para trás, para o caminho já percorrido. Não viu mais que uma densa névoa onde as formas mal se destrinçavam, não mais pertencia ali.
Voltou-se para a frente, lá estava ele o ponto minúsculo como que a chama-la, sentiu a luz que dele emanava.
Agora, confiante continuou a caminhar.

Vieira MCM

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Pôr do Sol...nunca como agora!


Embalada nos braços do pôr do sol,
Fui lá onde a dor não existe,
Onde só o amor subsiste.

Vi as flores confiarem ao arco íris as suas cores,
Lá onde a tristeza não tem lugar,
Vi os homens a sorrir,
Lá onde a fome não vai mais matar.

Vieram bandos de pássaros anunciar:
As crianças não vão mais chorar.

Neste lugar especial,
Só a partilha e a fraternidade fazem sentido,
Coisas que aqui não temos tido.

O pôr do sol devolve-me aqui, ao nosso lugar contido.
Desejo que nos dispamos de preconceitos,
Que nos libertemos de dogmas e medos.

Nunca como agora foi tão urgênte dar prioridade aos valores morais.
Nunca como agora foi tão dificil cultiva-los.

Anseio o dia em que seremos capazes de nos respeitar-mos como iguais.
Olhemos o pôr do sol com humildade.
Precisamos aprender com a sabedoria do universo.
Somos ainda tão pequenos, aceitemos a realidade.

Vieira MCM