terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Do Meu Porto Vejo o Farol


Sabem a sal os salpicos deste mar revolto.
Belas vagas de grinalda branca desfilam num vai e vem quase violento.
Envolvem o farol, anunciando a chegada de alguma embarcação aflita para atracar.
Como pode este meu porto ser seguro para tantas embarcações, e deixar a minha vaguear!
Ah a complexidade deste mar... Umas vezes leva-me para o fundo, outas parece que nunca me quiz afundar.
Vou procurando a carta de marear, não a encontro.
Quase imperceptivel o farol grita-me: ela não se aplica a este mar.
Entendo, entendo muito bem porque o diz. Não adianta procurar.
Ela está gravada em mim, só tenho que sentir as coordenadas e navegar.
Desfrutar do muito que este mar tem para me dar.

Vieira MCM

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Não desistam de mim


Amarga-me na boca, este sabor a dúvida.
Perco-me perante a incerteza, não sei como fazer.
Vagueio, não me encontro. Que é feito dos nobres sentimentos?
Comparo-os a um punhado de areia, quanto mais os aperto para não os perder, mais me fogem por entre os dedos.
Terei perdido a capacidade de me dar? Não quero crer.
Pecebo a barreira, vejo-a com desconcertante clareza, numa atitude incompreensível não a derrubo.
Deixo ficar.
Atónita vejo os que mais quero do lado de lá, meio entorpecida estendo a mão, não sinto apertar!
O que antes era claro, passou a ser uma sombra distorcida.
Tento novo ângulo, para minha infeliz constatação estão todos lá, no ponto onde os perdi.
Não me lembro de quando nem como foi.
Teriam ficado por opção ou por que não a dei?
Urge procurar o que nos tornou assim. Frivola resisto, não o faço.
Deixo que a armadura gasta de outras batalhas se ajuste a mim.
Sem vontade de compreender porque o faço, aguardo que o futuro me revele o que já sei que perdi!
Apetece-me dizer, não desistam de mim!

Vieira MCM