terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ao alcance de um sonho... à distância de um passo!



Cuidadosa desatou os sapatos em silêncio, tirou-os devagar, como se fosse a última vez que o fazia.
Pé ante pé saboreou o frio húmido das folhas mortas caídas no chão durante o Inverno.
Era Primavera, as árvores já exibiam folhagem verde, cheias de vida.
O perfume das flores deteve-a por momentos, penetrou-lhe as narinas, cansadas do fumo da cidade.
Tomou uma grande golfada de ar e continuou.
Os raios de sol rompiam a densa folhagem em todas as direcções, avivavam-lhe o brilho dos cabelos brancos, que já se faziam notar. Os traços que alietoriamente lhe vincavam o rosto são histórias já vividas, dores sofridas, alegrias contidas, tristezas partilhadas.
Alheia a tudo continua.
Olhos fixos, não se lhes percebe um só sentimento.
Não, já não era como outrora, não exteriorizava. Aprendera a amarga lição, guardar para si!
Sabia de antemão que estavam habituados a vê-la como ouvinte, não como narradora... para quê desiludi-los? Nunca tivera essa pretensão.
Na verdade já pouco interessava.
Ela própria sentia-se desiludida, só ainda não sabia se consigo se com os outros. Esta imensa confusão consumia-a. Preferia não pensar nisso por enquanto.
Continuava a caminhar, as ervas altas desgrenhadas atrasavam-lhe os passos pouco decididos, como se a quisessem segurar ali, onde não podia nem queria ficar.
Aquele ponto minúsculo de luz atraía-a.
Exausta quase desistira, conseguiu soltar algumas daquelas amarras e continuou.
O ponto minúsculo permanecia distante, mas a sua rara beleza não lhe deixava dúvidas. Era por ali o caminho. Para construir a tão desejada paz interior, tinha de o alcançar.
Meio entorpecida, olhou para tudo o que ficou para trás, para o caminho já percorrido. Não viu mais que uma densa névoa onde as formas mal se destrinçavam, não mais pertencia ali.
Voltou-se para a frente, lá estava ele o ponto minúsculo como que a chama-la, sentiu a luz que dele emanava.
Agora, confiante continuou a caminhar.

Vieira MCM

6 comentários:

SiulM disse...

A história de todos nós, Um fragmento por onde todos temos de passar, agora, depois ou um dia. Fico feliz. Parabéns!

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Adorei o texto...um fio invisivel entre o eu e o Infinito.

Deixo um beijinho
Sonhadora

JB disse...

Um passeio pela natureza... humana. tão bem escrito que se fundem por momentos... Por vezes só temos mesmo de ter coragem para dar o passo que falta... pois o sonho parece estar ali, tão perto!

Lindo!!!

Beijinho

Sempre disse...

Resta-nos apenas sonhar e caminhar. Tudo está ao nosso alcance. Abraço ;)

Tânia disse...

A vida é sem dúvida uma caminhada, e ás vezes o caminho é bem tortuoso. Mas com preseverança chegamos ao nosso destino.

Não estás só. Tu sabes.

Beijinho

Luz disse...

Um belo texto, uma reflexão excelente que em certos momentos recusamos fazer..., ou quiçá apenas adiamos..., mas tão necessária para o nosso conhecimento e o do outro que vale a pena mesmo que os caminhos possam ser tortuosos, doridos e a alma doa tanto como o corpo, é neste momento em que nos sentimos capazes de continuar e podemos dizer: sim, agora cheguei, agora conheço-me mais e melhor e, ao que me rodeia também; sim agora estou pronta, continuo a sonhar e a caminhar!

Uma vez mais parabéns pelo texto.

Aproveito para agradecer as palavras que deixa nos meus cantinhos, sempre muito profundas.

Beijinho