quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sombras



Arqueio o peito em movimentos descontrolados na tentativa de respirar o parco respeito no ar, mas a hipocrisia torna o ar menos respiravel.
Cambaleio por entre aqueles onde me devia edificar.
Nesta dança errante de risos vazios, sinto-me chorar. Meus olhos onde outrora brotava um fio cristalino permanecem áridos, perderam-se no tempo. Esse tempo que nos embala e nos aparta da realidade do que à nossa volta cresce.
Esta dor que sinto, não é o sufoco de querer respirar... É este choro invertido que me invade, que me farta de incertezas.
Dúvidas do que sou, de quem são, do que não sei se sinto. Do que sinto e não sei!
Angústia vagarosa, que me aperta como o aconchego de um abraço. Estremece-me a alma como a malícia de um beijo.
Quando por fim me liberto e volto a mim... Não sei quem são, não os reconheço. Não me revejo.
O que me agonia é este medo qual ressaca anunciada, de me olhar nos olhos e não me ver, de me tocar e não me sentir.
Medo de não me saber Eu!

Vieira MCM

6 comentários:

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Lindo texto...palavras que me dizem tanto.

Beijinhos
Sonhadora

Luz disse...

VieiraMCM,
Que desabafo forte e intenso. Como percebo o que sente ao escrever cada uma destas palavras que são reflexo desse sentimento que tem dentro e tortura de tal forma que sente a hipocrisia que paira, o riso vazio, o olhar que agora parece não ter o mesmo brilho de outrora, mas quiçá esse brilho existe apenas não encontrou o "objecto" que pode trazer de volta esse brilho e, o reconhecimento de si de novo e, sentir-se de novo na sua verdadeira pele, não será...

Gostei tanto de ler este texto, e também o senti, mas não permito sentir o que não quero e, querem que sinta, quero manter-me eu sempre!

Quanto às suas palavras num dos meus posts, não há qualquer procura de culpados, não tem nada a ver com isso, além que nem deve fazer-se, ainda que hajam situações em que um é sempre mais magoado..., mesmo que ambos se magoem...

Procure-se e, encontre-se vai ver que vai deixar de sentir esse medo e, vai olhar-se de novo e ver-se, tocar-se, sentir-se...

Abraço da Luz

Luz disse...

Olá VieiraMCM,
Há mais um selinho num dos meus cantinhos para si, no meu atomovida, é só pegar caso queira :)

Bjo de Luz

SiulM disse...

O que vale é que ainda há quem não se identifique com o mundo; e assim nunca vamos parar de tornar este quadrado aparentemente redondo que ousa circundar um universo estelar num lugar com menos recantos e mais clareza.

Gosto muito do que escreves; percebe-se que é autêntico e coerente. É o máximo que alguém que tem muito para dizer pode conseguir.
Não pares nunca de ser tu, o tu que tu chamas "Eu", mesmo que não saibas tudo sobre ele; mas só alguém que sabe muito pode dizer o que tu dizes...

Hugo Macedo disse...

Fico de boca aberta, com o que escreves. Primas pela simplicidade, pela brilhante escolha das palavras e por uma linha coerente e consistente. Tudo fruto de coisas/sentimentos que são puros e autênticos, porque só pode ser assim, sair do teu interior. E isto nota-se, e sente-se, vê-se que nada disto é artificial.

"Apenas" Excelente, VieiraMCM.

Ana Isabel disse...

Como sabes expressar bem as imagens genuínas que te vão na alma..



Boa semana


Ana Isabel